O muro e os Muros que esmagam Portugal



Num momento em que a direita festeja a queda do antigo Muro de Berlim, e ocupa todo o espaço de antena numa das maiores campanhas ideológicas dos últimos anos, apesar de jurar que «o tempo das ideologias acabou», importa também dizer algo sobre o assunto.
Desde logo recordar que o PCP foi o primeiro, e talvez o único, partido comunista do mundo a fazer um Congresso para debater a implosão do bloco socialista, simbolicamente datada com a queda do muro de Berlim, tendo concluído que o que acabou foi uma experiência de vários países e povos que se desviou dos princípios do socialismo e do comunismo, mas que o Socialismo e o Comunismo como alternativa ao capitalismo continua válido.

Mas importa também recordar aqui os muros construídos pelo capitalismo no seu afã explorador, terrorista, desumano e contrário aos interesses dos povos e das nações. Desde logo recordar o Muro que divide os crescentes colonatos israelitas dos terrenos cada vez mais escassos do povo mártir da Palestina.
Não só o muro que os isola e ameaça a sobrevivência, mas também os muros em forma de barragens que desviam a água para os crescentes colonatos e desertifica os pobres terrenos que ainda restam aos palestinianos para fazerem as suas hortas e produzirem a comida para os pratos dos seus filhos, obrigando-os à dependência alimentar, energética e hídrica.
Recordar também o muro que separa os EUA do México, isolando esses povos em detrimento dos mexicanos; e o muro imposto pelo imperialismo americano dividindo a península da coreia dividindo esse povo; e o que Espanha construiu no norte de África…
Mas outros muros o capitalismo ergueu mesmo dentro de cada País e entre os países.
As 85 famílias mais ricas do mundo possuem uma riqueza igual à que dispõe metade da população mais pobre do planeta. Os países do hemisfério norte detêm a esmagadora maioria da riqueza mundial e explora as matérias-primas dos países do hemisfério sul, como se verifica na espoliação de África, da América do Sul e Ásia.
Em Portugal 40 famílias detêm cerca de 40% da riqueza, condenado à pobreza cerca de 3.500.000 portugueses, muitos deles trabalhando 8 ou mais horas diariamente, por obra e graça das alterações à legislação do trabalho em benefício dos capitalistas levadas a cabo pelos últimos governos de PS, PSD e CDS-PP: e este é um muro que mais esmaga a economia nacional, impede o desenvolvimento económico e a assunção total da Soberania Nacional.
O muro que se ergue entre as 2.500 maiores empresas nacionais e as restantes centenas de milhares de micro, pequenas e médias empresas que não têm acesso ao crédito, muito menos ao bonificado, que não vão beneficiar com a descida do IRC, do qual só essas mesmas 2.500 empresas beneficiarão a fatia de leão, mais de 90%, esmagando qualquer possibilidade das outras empresas se afirmarem e contribuírem para o desenvolvimento nacional.
O muro imposto por Bruxelas de Durão Barroso, com a conivência dos mesmos partidos de sempre: PS, PSD e CDS-PP, e que impede os portugueses de pescarem as suas águas, obrigando o Portugal a importar produtos piscícolas pescados em águas portuguesas: veja-se o caso da costa algarvia rapinada de arrastão até à exaustão.
Muro que se ergue também na agricultura, dificultando a agricultura familiar de pequena e média dimensão em benefício das grandes fileiras do agronegócio, como está a decorrer com o miserável preço do leite ao agricultor nas beiras e das regiões autónomas, e à exploração das terras alentejanas agora irrigadas pelo Alqueva.
A queda do Muro de Berlim, através dos meios de comunicação que temos, procura esconder estes outros muros. Cabe-nos a nós comunistas, defender o futuro e o desenvolvimento de Portugal e denunciar esta violenta campanha ideológica.